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Vocação à santidade e às questões fundamentais

14.01.2012

Nascemos porque fomos convidados, chamados à vida. O profeta Jeremias o sabe bem! Deus o conhecia, desde antes das entranhas maternas (cf. Jr 1,5s). Nosso existir é uma constante peleja: a todo instante somos desafiados a dar respostas.

Na infância, respondemos às exigências dos complexos egoístas, da abertura ao novo, dos apelos dos adultos, da necessidade de se adaptar ao mundo. Na adolescência, descobrimo-nos desafiados a responder aos chamados do fortalecimento (mesmo que parcial!) da personalidade, internalização de valores fundamentais e de responder aos insultos dos adultos que caricaturam a adolescência como “aborrescência”. Quando jovens, chegam os tempos das decisões: estudos, relações afetivas, empregos... Tudo isso tem de ser triturado pela consciência e pela liberdade. Somos chamados a fazer escolhas que nos acompanharão – normalmente – pela vida afora. O mundo adulto, essa exuberância do que deveria ser a maturidade, obriga-nos a responder aos apelos constantes, seja na vida social, familiar ou espiritual. Quando da nossa velhice, os leques do chamado vão se afunilando. Não temos muito tempo para decidir muitas coisas. O idoso e a idosa são convidados a se focarem no essencial. O entardecer da vida os obriga a responder àquilo que dá, não àquilo que é urgente, mas ao que é mais importante. O que não foi possível... ficará para a eternidade.

Ora, vocação é, antes de tudo, chamado. Pelo que vimos e experimentamos, em todos os momentos da vida estamos sendo chamados: desde a existência até à padecência; da vida à morte; da infância à eternidade. Não tem como fugir da dimensão vocacional. Ela está em nós como a beleza da rosa que não se pode desprender da sua forma material de rosa. Somos, por natureza, vocacionados, quer dizer, chamados a alguma coisa.

No plano religioso a vocação mais sublime é à santidade: à união com Deus. Desejamos, como exprime o salmista, “contemplar a face do Deus vivo” (cf. Sl 41). Não se trata de santidade ligada aos santos dos altares (mas também!). Trata-se da santidade enquanto possibilidade de viver bem, feliz, em comunhão com Deus e com os irmãos. É dessa vocação que derivam aos outras vocações específicas.

O Concílio Vaticano II já nos alertava para o fato de que todo(a) batizado(a) é chamado à santidade, a dar testemunho de Deus no mundo (cf. Lumen Gentium, 40). Nosso seguimento a Jesus comporta a internalização e vivência de alguns valores. O amor ao próximo (no sentido literal e metafórico do termo) é o maior dos valores.  Ele se exprime de várias formas. Entre elas, destacam-se a acolhida fraterna e a comunhão de fé e objetivos (cf. At 4,32-14), o cuidado com os sofredores (cf. Lc 10,25-37) e a opção pelas bem aventuranças exigentes (cf. Mt 5, 1-10).

Não obstante à prática do amor, nossa fé em Deus e nossa vocação à santidade colocam-nos, sempre, numa atitude de questionamento. Estamos a nos perguntar: quem somos? De onde viemos? Qual a nossa missão? Quais os planos de Deus para nossa vida? O que podemos esperar para além da vida? Essa posturaperguntante, inquietante, já foi tratada tanto na filosofia quanto na teologia. Aliás, uma das imagens mais eloquentes da filosofia é a da interrogação. Ela se pergunta por tudo, pelas realidades visíveis e invisíveis. Sua missão é descobrir o por quê e a finalidade das coisas. A teologia, precisamente aquela do século XX e, especialmente, a de Karl Ranher, entende o ser humano como uma pergunta infinita (cf. Testamento Espiritual, deste autor) – para si mesmo e para o mundo. Em todo caso, moram em nós muitos questionamentos, evidentes ou inevidentes!

Nossa identidade questionadora, perguntante... acompanha-nos vida afora. No plano vocacional, batizados, todos: leigos, consagrados, ministros ordenados... nos fazemos esses questionamentos fundamentais. Por que? Porque queremos descobrir e vivenciar nossa vocação universal: a da união com o Mistério, com Deus, com Aquele que é inominável... Mas que se fez ser humano (cf. Jo 1,14) que armou sua tenda entre nós. Em Jesus temos o alento e o desafio. Alento porque suas palavras são de conforto e incentivo. Doces como o mel (cf. Mt 11,28). Desafio porque, ao mesmo tempo, são duras e incompreensíveis (cf. Lc 12,51-53). Cortante e penetrante como espadas de dois gumes.

Nossa vocação: é responder aos chamados! Da vida à morte, do hoje ao amanhã... somos alentados e desafiados a responder, a dizer sim ou não às demandas das fases de nossa existência.

Ser santo, mais do que ser perfeito, é colocar-se nesse caminho vocacional, é perguntar-se sobre o que é fundamental e... agir. Construir aqui na terra, entre as pessoas e a partir delas, o Reino divino. Lá, no horizonte escatológico, ou aqui, no plano cosmológico, encontrar-nos-emos com Deus, esse Mistério que não se toca, nem se vê, mas se intui, se sente... Diante Dele, nossas vocações (sejam elas quais forem) vertem os olhos, inclinam a fronte, dobram os joelhos e... silenciam numa contemplação misteriosa. Não se encerram as perguntas, mas se ampliam as possiblidades de respostas.



Ir. José Sival Soares, RCJ